O que define um mangá ser shounen ou shoujo?


Como mangá (e outras mídias) são classificados nos gêneros demográficos? É uma informação oficial ou há espaço para a subjetividade? Como desenhar mangá aprenda a criar personagens?

O texto a seguir é um editorial de Justin Sevakis, publicado no ANN, e traduzido pelo blog BBM para o português.

Olhando para o produto final, o gênero demográfico que um mangá se encaixa pode ser extremamente impreciso. Um mangá pode ser shounen e ainda assim atrair primariamente garotas, como O Princípe do Tênis ou Kuroko no Basket. Um mangá pode ser shoujo e ser primariamente de ação, como muitas séries do CLAMP. Inclua as categorias adultas josei e seinen, e as linhas que os dividem podem se tornar extremamente imprecisas e subjetivas. Especialmente porque muitos artistas trabalham em diferentes séries para diferentes audiências ao longo de suas carreiras.

Não, o fator definitivo considerado geralmente para definir em que categoria entra um mangá (ou light novel e qualquer anime resultante) é a revista original onde foi serializado. É nisso que as pessoas normalmente se baseiam para determinar esse tipo de coisa. Aqui vai um exemplo: digamos que você fale “Oh, estou assistindo Koi wa Ameagari no You ni esta temporada, é um anime shoujo” porque é cheio de brilhinhos, bolhinhas e romance; você provavelmente seria corrigido por alguém que diria “na verdade, Koi wa Ameagari no You ni é seinen, é publicado na Big Comic Spirits, uma revista seinen”. As razões vão além de para quem aquela revista é vendida, ou se há propagandas ali para vídeos de idols ou maquiagem. Os editores daquela revista deram forma à história e ao visual do mangá, exigindo que o artista usasse diferentes formas de narrativa mais populares ou mudasse o estilo de sua arte de uma certa maneira. Essas exigências editoriais são absolutamente destinadas a atrair o público-alvo daquela revista, e para deixar a série famosa. Séries que são populares com o público-alvo vendem as propagandas que mantêm aquela revista funcionando, afinal de contas.

Essas exigências têm efeitos no mangá final que podem ser bem difíceis de detectar posteriormente, especialmente considerando que revistas como a Shounen Jump expandiram intencionalmente seu público-alvo (para incluir mulheres, neste caso) e assim tentar aumentar suas cópias em circulação. Conforme os anos passam e o consumo das revistas de mangás diminuem mais e mais, essa mudança não é algo ruim. Mangá certamente irá continuar, mas em gêneros novos e menos demográficos.

O sistema de categorização de mangás e animes por demografia das revistas é extremamente ultrapassado. Mangá e anime eram vendidos dessa forma, e alguns ainda são comercializados para um sexo específico, mas um enorme percentual são feitos para agradar homens e mulheres igualmente. Essa categorização forçada muitas vezes acabam fazendo um desserviço para aquele trabalho, porque podem acrescentam um estigma: fãs homens são menos inclinados a ler uma obra shoujo ou josei, mesmo podendo ser algo que eles fossem aproveitar. Espero que possamos criar uma sistema demográfico melhor, embora para ser honesto eu não tenha nenhuma ideia.

Justin Sevakis, 12/03/2018.

Fonte: https://bibliotecabrasileirademangas.wordpress.com/